Percurso
Café, ferrovia e música: museus do Centro-Sul Fluminense
O Percurso
Percorrer o legendário Vale do Paraíba é entrar em contato com um território que representou uma das bases de sustentação econômica e política do Império brasileiro e de parte da República. Ali se cultivou, durante décadas, um dos maiores produtos de exportação brasileira, o café. Por esse motivo, o vale chegou a ser conhecido como o Vale do Café.Conhecemos a Casa do Colono, construída por colonos alemães em 1847, cujo alicerce é de pedra bruta e as paredes são de pau-a-pique. As ruas do quarteirão têm nomes que se referenciam aos colonos alemães.
De lá, seguimos para o Museu Imperial, importante símbolo da cidade e um dos museus mais visitados do Brasil. O museu trata da vida imperial e desse passado cheio de símbolos reais, coroas, roupas, pinturas, louças, prataria.
O legendário Vale do Paraíba representou uma das bases de sustentação econômica e política do Império brasileiro e de parte da República
Em torno da economia cafeeira, floresceram cidades e toda uma cultura das grandes fazendas, onde uma classe senhorial afirmou-se e enriqueceu-se: os “barões do café”. As fontes dessa riqueza emanavam da mão de obra dos escravos trazidos da África e que, em meados do século XIX, atingiram a cifra de milhares.
Há muitos vestígios históricos no Vale do Café. A cidade de Vassouras concentra significativo patrimônio: além dos grandes casarões, o Museu Casa da Hera destaca-se na sua paisagem. A visita a esse museu, antigo local de moradia de uma das mulheres mais ricas e avançadas do Império, Eufrásia Teixeira Leite, é uma rara oportunidade para conhecer de perto vestígios da intimidade da vida dos barões e baronesas do café, por meio dos mais de três mil objetos expostos que pertenceram à família Teixeira Leite.
Percorrendo a casa de Eufrásia, personagem singular em uma sociedade que não reservava às mulheres um papel de protagonismo, aprendemos um pouco sobre a sociedade da época e, em particular, sobre essa mulher que rompeu barreiras e notabilizou-se por grande tino comercial, chegando a multiplicar sua fortuna em investimentos financeiros na Europa.
Mas, e as memórias dos escravos? Onde habitam, em Vassouras, os vestígios da imensa população negra que povoou o Vale do Café no século XIX? Um desses lugares é o Memorial Manuel Congo, erigido no local onde o líder quilombola Manuel Congo foi enforcado por aqueles que faziam a repressão às revoltas dos escravos. O Memorial é muito simples, mas impactante em virtude de seu grande potencial evocativo da memória da escravidão, por tantas vezes silenciada na História do Brasil. Em seu entorno, em algumas ocasiões, abre-se a roda para manifestações da cultura afro-brasileira, valorizando o patrimônio imaterial dos atuais descendentes dos antigos trabalhadores do café.
Há ainda diversas fazendas que podem ser visitadas, mediante agendamento prévio, e onde permanece viva a aura da riqueza produzida no século XIX
Abertas à visitação, há ainda diversas fazendas que podem ser visitadas, mediante agendamento prévio, e onde permanece viva a aura da riqueza produzida no século XIX: Fazenda Santa Eufrásia, Fazenda Cachoeira Grande, Fazenda Galo Vermelho, Fazenda Cachoeira do Mato Dentro, Fazenda Mulungu Vermelho, Fazenda São Fernando, Fazenda do Secretário, Fazenda São João da Barra.
Seguindo para Miguel Pereira, cidade bucólica de veraneio, dois museus são particularmente interessantes. O primeiro, o Museu Ferroviário, fica localizado na antiga Estação Ferroviária de Miguel Pereira, criada em 1898 pela Estrada de Ferro Melhoramentos, inicialmente com o nome de Estação da Estiva. Nos anos 1990, os moradores se organizaram pela preservação desse espaço de memória que havia sido comprado por uma rede de supermercados. A Prefeitura aderiu ao movimento social, embargando a obra e comprando a área que passou a abrigar o museu e preservar a memória coletiva dos antigos ferroviários e suas famílias.
O museu é muito simples, e os objetos que ali estão patrimonializados, ainda que sem uma proposta clara de exposição, são muito curiosos e evocativos de uma história importante que perdurou por quase um século. São testemunhos da malha ferroviária que interligava os diversos municípios e foi crucial na ocupação humana de toda a região. Lá estão uma antiga locomotiva, vagões, bancos, sinos, dormentes de estradas de ferro, instrumentos de trabalho os mais variados, carteiras de trabalho dos antigos ferroviários, fotografias e um sem-número de objetos que perderam seu valor de uso e hoje são lugares de memória de um mundo que já se foi.
Por último, visitamos a Casa de Santos Dumont “[...] na Rua do Encanto, no Morro do Encanto e, por este motivo Santos Dumont chamou a casa de Encantada”. Trata-se da única residência que Santos Dumont teve no Brasil.
Os objetos ali expostos nos trazem a memória de uma era importante para a Música Popular Brasileira: a chamada “era do rádio”
Num outro recanto, ainda em Miguel Pereira, o Museu Francisco Alves relembra aquele que ficou conhecido como o Rei da Voz. Os mais jovens certamente não saberão quem foi esse cantor. Mas, os objetos ali expostos nos trazem a memória de uma era importante para a Música Popular Brasileira: a chamada “era do rádio”, em que muitos talentos musicais despontaram e ganharam celebridade. Dono de uma voz firme e potente, Francisco Alves começou sua carreira em 1918, cantando uma marchinha carnavalesca do compositor Sinhô, que fez muito sucesso na época: “O Pé de Anjo”. Discos, partituras, microfones, roupas, rádios dos anos 1940, instrumentos musicais e ampla iconografia do artista estão ali reunidos. E o museu, gerido pela prefeitura, assume o papel de tirar do esquecimento e homenagear Francisco Alves, talvez numa atitude de retribuição pelo fato de o cantor, já famoso, haver frequentado a cidade de Miguel Pereira e difundido suas qualidades.
Há ainda muito a descobrir nesta região de grande riqueza do ponto de vista histórico e patrimonial. Vale destacar o Parque Ecológico e Ambiental de São João Marcos, em Rio Claro, primeiro sítio arqueológico urbano do país.
O Museu da Cachaça, em Paty do Alferes, criado por um colecionador, encontra-se aberto à visitação pública nos fins de semanas
Por fim, alguns museus curiosos e com acervos muito interessantes, como o Museu da Cachaça, em Paty do Alferes, criado por um colecionador, encontram-se abertos à visitação pública nos fins de semana. Quem sabe, em um futuro próximo, será possível a criação de outros museus que expressem histórias tão significativas?
Vídeos
Museus Incluídos no Percurso
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Museu Casa da Hera
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Museu da Cachaça
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Museu Francisco Alves
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Museu Ferroviário Miguel Pereira
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