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Rio de Janeiro: A “cidade espelho da nação” e um universo multifacetado de museus

A cidade do Rio de Janeiro tem muitas histórias para contar. Fundada no século XVI, a partir de sua órbita gravitava a vida política, social e cultural do Brasil Colônia.

Com o “Grito do Ipiranga”, ato que marcou, em 1822, a emancipação do território brasileiro do Reino Unido de Portugal e Algarves, a centralidade desta cidade não foi menor. Pelo contrário, alçada ao status de capital do Império do Brasil, tornou-se palco de decisões políticas de repercussão nacional, além de servir como “balão de ensaio” para experimentos de modernizações tecnológicas, como a criação da rede ferroviária e a implementação do telégrafo.

Além disso, capitaneava a vida financeira do país e articulava-se com a esfera internacional por intermédio de seu grande porto marítimo, de onde escoavam os produtos agrícolas – base da economia nacional – e por onde chegavam as novidades.

A perda da capitalidade não diminuiu seu prestígio, e a cidade continuou a exercer grande fascínio

Durante o Império, a cidade apelidada de “cidade espelho da nação”, ditava as modas e reunia a nata da intelectualidade do país. Com o advento da República, a partir de 1889, a importância do Rio de Janeiro não foi menor, concentrando os poderes republicanos e sediando a elite política, social e econômica do Brasil até o ano de 1960, quando capital foi transferida para Brasília.

Paradoxalmente, a perda da capitalidade não diminuiu seu prestígio, e a cidade continuou a exercer grande fascínio, atraindo visitantes estrangeiros e de todos os cantos do país. Conhecida como Cidade Maravilhosa por suas praias, clima e beleza natural, entre as montanhas e o mar, a cidade do Rio de Janeiro foi distinguida pela Unesco, em 2012, como Patrimônio Mundial, na categoria Paisagem Cultural Urbana.

O universo dos museus tem início com a criação do Museu Real, em 1818, por D. João VI

Nesse contexto, o universo dos museus tem início com a criação do Museu Real, em 1818, por D. João VI, com o fim de propagar o conhecimento e o estudo das ciências naturais em terras brasileiras. Com a República, seu acervo passou a integrar o novo museu instalado no antigo Paço de São Cristóvão, residência da família imperial – o Museu Nacional, instituição científica voltada à pesquisa e à memória da produção do conhecimento.

Fato curioso e ilustrativo da tendência de transformar espaços de poder em museus se repetiria por ocasião da inauguração da nova capital do país, Brasília, em 21 de abril de 1960. Dessa vez, foram os portões do Palácio do Catete, sede do Poder Executivo da República Brasileira por 63 anos, que se abriram para a criação de um museu dedicado a essa memória na cidade, o Museu da República.

O mesmo aconteceu em relação à História da Nação que precisava ser construída, assim como seu museu. O conjunto arquitetônico e o entorno do Museu Histórico Nacional, criado em 1922, sobressaem como monumento histórico da ocupação, defesa, urbanização e transformação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, desde sua fundação, no Alto do Morro do Castelo, em 1565, até os dias de hoje. No museu que abrigou o primeiro curso de museus do país, criado por Gustavo Barroso, em 1932, parte dos 350 mil itens que compõem suas coleções está exposta no circuito de longa duração cujo arco de tempo vai da pré- -história brasileira até o período republicano.

Outra faceta interessante nesse panorama dos museus na cidade constitui-se pelos museus dedicados à memória de personagens ilustres, seja no campo das artes, da política ou do próprio desejo pessoal de legar à cidade coleções formadas por toda uma vida. Os museus-casa representativos desse universo encontram-se nos bairros da Zona Sul, como o Museu Casa de Rui Barbosa, localizado no bairro de Botafogo. Além de reunir importante acervo museológico, arquivístico e bibliográfico, o local, que serviu como residência ao jurista e coautor da Constituição da Primeira República Brasileira, constitui uma miragem parada no tempo e no espaço da cidade; raro exemplar de uma das antigas chácaras situadas no bairro, eleito como moradia pela aristocracia carioca entre os séculos XIX e XX.

Muitos foram os museus criados pela Administração Pública, entre eles, museus de ciência, como o Museu de Astronomia e Ciências Afins, em São Cristóvão, museus de arte, como o Museu Nacional de Belas Artes, no Centro, museus etnográficos, como o Museu do Índio, em Botafogo. Este último abriga importante acervo sobre as etnias indígenas brasileiras, além de atuar como ferramenta das políticas indigenistas no país.

Museus que nasceram de iniciativas privadas, como os museus Castro Maya e o Museu de Arte Moderna, e que possuem acervos de inestimável importância artística e histórica compõem um dos mais importantes cenários de museus de arte do Brasil.

Uma experiência fascinante é conhecer os museus dedicados à cultura e à arte popular

Imbuídos do espírito de brasilidade que os museus da cidade do Rio de Janeiro naturalmente evocam, uma experiência fascinante é conhecer os museus dedicados à cultura e à arte popular. O Museu do Folclore Édison Carneiro, no bairro do Catete, o Museu Casa do Pontal, no Recreio dos Bandeirantes, e o Museu de Arte Naïf, no Cosme Velho, revelam diferentes imaginários do povo brasileiro, expressos por alguns de seus melhores artistas, como Mestre Vitalino, Zé Caboclo, Dona Isabel, oriundos de várias regiões do país.

A forte presença da população afrodescendente no país também está expressa em alguns dos museus da cidade. O Museu do Negro, misto de museu e espaço de culto devocional, localizado na antiga Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, no centro da cidade do Rio de Janeiro, é um espaço dedicado à representação histórica do negro no Brasil, sua religiosidade e devoções. O Memorial dos Pretos Novos, sediado na Zona Portuária da Gamboa, desenvolve pesquisas e projetos educativos em torno do tema da escravidão no Brasil.

Práticas diferenciadas no campo dos museus, expressas pelo Movimento da Nova Museologia, contribuíram para a formalização de outras tipologias de museus

Também práticas diferenciadas no campo dos museus, expressas pelo Movimento da Nova Museologia, contribuíram para a formalização de outras tipologias de museus que não mais se representam apenas pela guarda e preservação de objetos, mas, sobretudo, pela autorrepresentação social no tempo e no espaço da própria comunidade.

Surgem, então, no seio de movimentos sociais relacionados à defesa e construção do direito à cidadania, identidade e pertencimento, quando nova escrita é dada à cidade pelos novos museus que se formam a partir da iniciativa de parcela da população que, até então, não se viam representadas nos museus de sua própria cidade.

Exemplos disso e merecedores de premiações por parte do Governo Federal e de agências multilaterais são o Ecomuseu, no bairro de Santa Cruz e o primeiro museu a ser criado num complexo de favelas da Zona Norte da cidade, o Museu da Maré, que conta, do ponto de vista de seus moradores, a história de ocupação da cidade por migrantes vindos de várias localidades do país no processo de urbanização e crescimento da construção civil a partir de meados do século XX. Outros dois exemplos de museus criados em favelas encontram-se na Zona Sul da cidade: o Museu de Favela (MUF), localizado no Morro do Cantagalo, e o Sankofa, na Rocinha, Ponto de Memória reconhecido pelo programa Pontos de Memória do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/MinC), em 2011.

A cidade passa, mais uma vez em sua história, por novas ondas de requalificações urbanas na qual os museus têm papel de destaque

Por fim, a cidade que ganhou seu primeiro museu no início do século XIX, passa, mais uma vez em sua história, por novas ondas de requalificações urbanas na qual os museus têm papel de destaque: a Casa Daros, o Museu das Telecomunicações, o Museu da Light, o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu do Amanhã, não por acaso ocupando o novo cenário da velha cidade, apostam na construção de um novo olhar sobre a cidade e seu futuro; o novo Museu da Imagem e do Som e o Museu da Moda Brasileira, cada um a sua maneira, tratarão da memória de um patrimônio que ultrapassa a própria cidade, ganhando o país e o mundo.

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